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LAG Blog

Writer's pictureMatthew Richmond

A geografia das eleições brasileiras


À medida que as eleições no Brasil se aproximam, todos os olhos estão grudados nas urnas. Desde o início da campanha, os dois favoritos – o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva do Partido dos Trabalhadores (PT) e o presidente Bolsonaro do Partido Liberal (PL) – permaneceram mais ou menos estáveis em suas posições relativas. Em pesquisas “estimuladas” sobre intenções de voto no primeiro turno (onde os nomes dos candidatos são lidos para os entrevistados), o apoio a Lula pairou em torno de 45%, enquanto Bolsonaro flutuou próximo dos 30%. Isso parece sinalizar que Lula está em uma vantagem confortável, mas ainda está aquém do limite de 50% que precisaria para vencer no primeiro turno e evitar um segundo turno.


Além desses números principais, uma tarefa mais desafiadora é descobrir de onde vêm esses votos. Após uma eleição, é fácil visualizar a geografia do voto de um determinado candidato. Os votos são contados individualmente e compilados na escala das zonas eleitorais (geralmente do tamanho de uma cidade pequena ou distrito dentro de uma cidade maior), dando uma imagem bastante precisa de sua distribuição espacial. Por outro lado, as pesquisas pré-eleitorais são realizadas por meio de pequenas amostras, geralmente cobrindo grandes áreas, mais comumente em escala nacional. A maioria das empresas de pesquisa também identifica de qual das cinco regiões do Brasil os entrevistados vêm, fornecendo alguns dados nessa escala. No entanto, estes são territórios muito grandes e diversificados, tornando difícil fazer inferências mais específicas sobre a geografia do comportamento do eleitor. Felizmente, algumas pesquisas também são realizadas na escala menor de um estado federado, o que dá uma imagem um pouco mais clara. Desde agosto, as principais empresas de pesquisa do Brasil realizaram pesquisas em todos os estados da federação (ver Tabela 1). Essas pesquisas usaram diferentes metodologias e tamanhos de amostra, o que provavelmente produzirá distorções nos dados. No entanto, juntos, elas fornecem a imagem mais clara que temos atualmente da popularidade dos principais candidatos em cada estado.


Tabela 1. Comparação do resultado das eleições de 2018 (primeiro turno) e da última pesquisa de 2022 (primeiro turno)[1] por estado







Elas mostram, por exemplo, que os estados mais pró-Bolsonaro estão no extremo norte e no sul do país. Em uma pesquisa recente, o estado amazônico de Roraima favoreceu Bolsonaro a Lula por uma enorme margem de 66% a 16% (com o restante composto por outros candidatos e indecisos). A margem para Bolsonaro foi apenas um pouco menor nas pesquisas em dois outros pequenos estados amazônicos – Rondônia (54% a 27%) e Acre (53% a 30%). O único outro estado em que Bolsonaro tem uma margem igualmente grande – e atingiria o limite de 50% para uma vitória no primeiro turno – é o estado de Santa Catarina (50% a 25%). Em contrapartida, Lula ultrapassou esse patamar em pesquisas realizadas em oito estados, todos localizados na região Nordeste. Sua maior liderança veio do Maranhão (66% a 18%), seguido pela Bahia (62% a 20%), Pernambuco (62% a 22%) e Piauí (61% a 20%).




No entanto, esses estados fortemente bolsonaristas ou lulistas, respectivamente, terão impacto limitado no resultado geral. Com um total de cerca de 2,2 milhões de eleitores entre eles em 2022, Rondônia, Roraima e Acre representam apenas 1,5% dos 157 milhões de eleitores do Brasil. Os nove estados do Nordeste respondem por uma proporção bem maior – cerca de 28%. No entanto, o PT já teve um desempenho muito forte na região em 2018, portanto, tem relativamente pouco espaço para melhorar seu desempenho desta vez. Por exemplo, no Maranhão, 61% já votaram em Haddad no primeiro turno de 2018 e apenas 24% em Bolsonaro. Se compararmos o resultado de 2018 com a última pesquisa, ele sinaliza apenas um aumento de 5% na votação do PT no Maranhão e uma queda de 6% na de Bolsonaro. Dessa forma, as áreas que serão mais cruciais são os grandes centros populacionais que votaram fortemente em Bolsonaro em 2018, mas que parecem estar se inclinando para Lula desta vez. Em ambos os aspectos, é a região Sudeste do país – com enormes 43% do eleitorado – que parece ser decisiva[2].


Os três estados mais populosos do Brasil estão todos localizados nesta região. De longe o maior é São Paulo, com 22% do eleitorado, seguido por Minas Gerais com 10% e Rio de Janeiro com 8%. Se compararmos os resultados do primeiro turno em 2018 e a votação atual, temos uma ideia das movimentações em cada um deles. No primeiro turno de 2018, 48% dos eleitores mineiros votaram em Bolsonaro e apenas 24% em Haddad. A pesquisa atual mostra uma reversão significativa, com 43% planejando votar em Lula e 33% em Bolsonaro, ou seja, uma oscilação de +20% no voto do PT e de -12% no voto de Bolsonaro. Em São Paulo, apenas 16% do eleitorado votou em Haddad no primeiro turno de 2018, enquanto as pesquisas apontam 43% para Lula – uma oscilação de +27% para o PT. Por outro lado, 53% dos paulistas votaram em Bolsonaro em 2018, enquanto apenas 33% planejam votar nele desta vez – uma oscilação de -20%. Mas a maior oscilação de todas parece acontecer no estado natal de Bolsonaro, o Rio de Janeiro. As pesquisas sugerem que 44% votarão em Lula no dia 2 de outubro, em comparação com apenas 15% que votaram em Haddad em 2018 (uma oscilação de +29% para o PT), enquanto sinalizam uma grande queda na votação de Bolsonaro de 60% para 36% (uma oscilação de -24%).


Embora essas comparações se baseiem em tipos muito diferentes de dados, que foram coletados usando metodologias diferentes, elas permitem algumas inferências informadas. Eles sugerem que Bolsonaro manteve uma liderança – embora na maioria dos casos diminuída – em estados de fronteira agrícola escassamente povoados da Amazônia e da região Centro-Oeste, bem como em alguns estados do Sul. Mostram também que o PT manteve – na verdade aumentou um pouco – sua grande vantagem na região mais pobre do Brasil, o Nordeste. Mais amplamente, as pesquisas indicam uma tendência moderada a grande em direção ao PT na maioria dos estados. Isso significa que muitos estados que votaram fortemente em Bolsonaro em 2018 provavelmente lhe darão margens menores desta vez, e estados que lhe deram uma vitória apertada, desta vez, se inclinarão para o PT.


No entanto, parece haver uma oscilação muito grande nos centros econômicos mais populosos do Sudeste do país, especialmente São Paulo e Rio de Janeiro. Estes são estados muito grandes e internamente diversos. Eles contêm diferentes tipos de território, desde pequenas cidades e áreas rurais, até bairros urbanos ricos, periferias de baixa renda e favelas nas duas maiores metrópoles do país. Como Liz McKenna e eu mostramos previamente, nas periferias urbanas de São Paulo e Rio de Janeiro, que constituem um eleitorado considerável, houve um afastamento de longo prazo do PT. Será interessante ver se esta tendência é totalmente revertida este ano. Uma possibilidade alternativa é que essas áreas voltem para o PT com menos intensidade do que as áreas mais ricas. Isso sinalizaria uma mudança significativa na composição social e espacial do voto petista, com implicações para as futuras perspectivas eleitorais e para o posicionamento político do Partido. Dadas as limitações dos dados de pesquisa para tal análise, teremos que esperar até depois do dia da eleição para descobrir.


Traduzido por Leonardo Fontes, CEBRAP & LSE LACC

[1] Dados agregados pelo Poder360, usando dados originais de pesquisas do IPEC, Datafolha, Quaest, Paraná Pesquisas, Ranking Pesquisa e Percent Brasil. [2] Além das regiões mais populosas do Sudeste e Nordeste, a região Sul responde por cerca de 14%, a região Norte por 8% e a região Centro-Oeste por 7%.

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